sábado, 3 de novembro de 2012

El Cazador - Diablo

          O caçador acordou no hospital, novamente havia sido tratado pelo doutor Rickard. A diferença é que desta vez havia passado cinco dias desacordado e o que o prendia à cama não eram algemas, mas sim sua condição que ainda era, segundo o medico, delicada. Passou mais quatro dias sob os cuidados do hospital antes de receber alta e no terceiro dia havia recebido uma visita do detetive Finley. 
          - O que você quer, detetive? – Miguel tremeu ao pensar que seu disfarce pudesse estar comprometido. – Será que meu superior não te deu o recado? 
          - Calma, agente, eu estou no meu horário de folga. – Mostrou as duas garrafas de cerveja que havia trazido. - Só quis dar uma passada para me desculpar da melhor forma que conheço. 
          O caçador pegou uma das garrafas. Pareciam séculos desde a última "geladinha" que tomara. – Só não fale disso para o doutor e suas desculpas estão aceitas. 
          - Bom. – Sorriu. – Agentes da lei deveriam trabalhar juntos e não ficar acusando uns aos outros. – Bateram papo sobre sua saúde e quando as cervejas acabaram ele o desejou melhoras. – Deixa eu levar isso. – Carregou as duas garrafas entre os dedos. – Se o Rick descobrir que trouxe cerveja para você ele me mata. 
*** 
          Finalmente havia saído do hospital e voltado para o hotel. Já estava muito atrasado em sua caçada e teria que correr muito para voltar ao páreo. Subiu as escadas carregando alguns pontos e cicatrizes novas, além de muitos comprimidos para dor. 
          Abriu a porta do quarto, e apesar de estar numa completa escuridão percebeu que havia alguém ali. Acendeu as luzes e se deparou com um homem de feições sérias e cabelos grisalhos. De estatura mediana, ele vestia um fino terno e roupas sociais feitas sob medida, todo de preto, com sapatos bem engraxados. Tinha as duas mãos apoiadas em uma bengala preta com pequenos detalhes prateados e com a cabeça de um bode prateado esculpido na ponta. 
          - Até que enfim acordou. Por um momento achei que não ia se recuperar. – Disse o intruso sem demostrar emoção. 
          - O que você quer, diablo? – Aquela visita só podia significar uma coisa, seu prazo havia acabado e o demônio estava atrás de sua cabeça. 
          - Vim parabeniza-lo pela vitória. Afinal não é qualquer humano que consegue derrotar uma fada, muito menos uma do nível de Puck. – Disse o demônio, ainda indiferente. – Você está cada vez mais se provando uma ótima escolha. 
          - Estou comovido. Se já acabou pode ir, se não, vá do mesmo jeito. – Respondeu o caçador enquanto abria a porta. – Preciso voltar à caça de sua besta e tenho muito tempo perdido a ser recuperado. – O caçador odiava ficar na presença daquela criatura. 
          A porta bateu e se trancou sozinha. Miguel encarou o demônio, mas só o que viu foi a mão dele vindo em sua direção. Apesar de franzino, o possuído era dotado de força sobre-humana e com apenas uma das mãos ergueu o caçador pelo pescoço. – Você se acha especial, não é? – Desprezo tomava lugar à indiferença. – Acha que só porque eu vim a sua procura estou disposto a aturar suas gracinhas! Você é apenas um peão que pode ser substituído com um estalar de dedos. Reconheça o seu lugar e cale-se quando eu estiver falando. – Miguel respirava pesadamente ao ser libertado. 
          - Agora que você está mais disposto a me ouvir, meu leal servo, deixe-me parabeniza-lo corretamente. – Apesar do sarcasmo, a indiferença havia voltado. – Vou lhe dar três presentes que o ajudarão em sua caçada. Primeiro uma informação, eu retardei o cão, de modo que ele não ganhou terreno durante sua caça à fada e só voltara a fugir depois que você sair da cidade. Segundo. – Ele estalou os dedos e Miguel sentiu seu corpo esquentar rapidamente, mas voltou à temperatura normal logo em seguida. – Apaguei todas as sequelas de seu último embate. E para terminar, você agora saberá aonde meu animal se encontra não importa aonde ele vá. Tudo o que precisa fazer é se concentrar nele e você saberá em que direção seguir. Agora pode voltar à caçada. – Deu um sorriso amarelo e encarou o caçador. – Um último conselho, nem pense em ir para Irlanda. Eu não moverei um dedo para protegê-lo e nada será capaz de salva-lo da ira de Puck. 
          Miguel, que até então se mantivera impassível, sorriu de volta para o demônio. – Agradeço do fundo de meu coração, mestre. Fico emocionado ao saber que o senhor se importa tanto com minha humilde pessoa. – Apesar de estar aterrorizado, o caçador não abaixaria a cabeça perante aquela criatura. Seu orgulho falava mais alto que a razão. – Peço permissão pra retornar à missão que emprego em nome de meu amado mestre. 
          O homem possuído o olhou cheio de desprezo. – Siga teu caminho, maldito. Muitos problemas ainda te esperam e será um verdadeiro milagre se chegar ao final de sua jornada com a língua presa à boca. – Desapareceu enquanto falava. 
          O caçador desabou em cima da cama. Ele tremia dos pés à cabeça. Aquela criatura sempre causava esse efeito. O seu excesso de indiferença e aquele olhar, que o faziam se sentir mais insignificante do que uma formiga, lhe davam a certeza de que qualquer movimento errado o levariam a conhecer o Inferno. Mas o pior de tudo era a impressão que o caçador tinha de que cada palavra do demônio carregava uma pegadinha e cada vez mais ele achava que estava sendo arrastado para uma grande armadilha. 
          Quando se recompôs tentou descobrir aonde sua caça se encontrava, sentiu um formigamento em sua nuca. Virou- se e ficou surpreso ao perceber que o formigamento acompanhou o movimento, sempre se mantendo na mesma posição. Agora tinha pelo menos uma direção a seguir. Arrumou suas coisas e pagou por todos os dias a mais que havia ocupado o hotel. Caiu na estrada guiando seu Mustang em direção ao sul. 
*** 
          Arthur estava impaciente. Não podia contar com aqueles ratos de laboratório preguiçosos. – Ei, Dex, as digitais daquela garrafa de cerveja que eu trouxe já deram algum resultado? 
          - Já ia levar pra você. Terminei agora a pouco, pode pegar ali em cima da escrivaninha. – Respondeu Dexter, um dos especialistas forenses da delegacia. 
          - Sei, sei. – Disse enquanto pegava o arquivo. Arregalou os olhos ao ver o que tinha em mãos. Foi até a sala do capitão, agora tinha provas. 
          - É bom que você não venha com mais alguma fantasia absurda sobre querer prender um agente da Segurança Nacional, Finley. – A paciência do capitão estava acabando. 
          - Senhor, eu peguei as digitais do tal agente e descobri que ele na verdade é um foragido. – Disse o detetive Arthur Finley. – Tem até suspeita de homicídio na ficha dele. 
          - Deixa eu ver isso. Meu Deus. Vou ligar para o prefeito ele vai fazer com que a Segurança Nacional finalmente responda nossas perguntas. 
          - Não há tempo, capitão. Cada segundo que esperamos é um passo a mais que ele fica na nossa frente. – Ele iria definitivamente pegar aquele desgraçado. 
          - Calma, Finley, eu vou te colocar a frente do caso, mas nos temos que fazer tudo do jeito certo. Já basta você ter pego as digitais dele Deus sabe lá como, não vamos arriscar perder esse caso. Entendido? 
          - Entendido, capitão. – A espera valia a pena, esse caso iria catapultar sua carreira.

Um comentário:

  1. Finalmente a estoria de Miguel vai começar a se desenrolar. muitas respostas acompanhadas de outras perguntas estão por vir. E tenham certeza esse Finley ainda vai dar o que falar.

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